sábado, 11 de agosto de 2012

O sobrevivente

Análise::: O Sobrevivente contém diferentes formas discursivas que encaminham o leitor a uma compreensão crítica da realidade objetiva. O autor inicia seu poema com uma negação que aparece enfatizada pelo uso da anáfora. Os dois primeiros versos questiona o leitor sobre o que seja a verdadeira poesia e o sentimento do autor quanto à evolução da humanidade. No verso "O último trovador morreu em 1914.", dialoga com a data da deflagração da Primeira Guerra Mundial, remete-nos à morte de um fazer poético e, a partir daí, instaura-se a necessidade da arte para um novo padrão estético, que vai se desdobrando ao longo do poema. Na segunda estrofe, o que percebemos é a constatação de uma realidade mecanicista no mundo: "Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.". As hipérboles presentes em todos os versos dessa estrofe, ao mesmo tempo em que criam um tom de humor e ironia, denunciam a posição crítica do autor em relação ao avanço tecnológico. Já na terceira estrofe, encontramos um discurso desalinhado dos demais. Ele não se assemelha ao todo do poema e lembra-nos uma colagem jornalística: "Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura.". O autor, com o emprego da função referencial, demonstra que ele não somente se mantém à parte do processo da 'evolução da humanidade', como também não compactua com ele pois, até lá, felizmente, estará morto. Os cinco primeiros versos da quarta estrofe não deixam dúvida de que o poeta sente aversão ao avanço tecnológico e está descrente em relação à humanidade. O uso de "percevejos", de valor negativo, ao lado de "heroicos", de valor positivo, compõe uma antítese que reforça semanticamente a ironia. O verso "Se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio" intensifica, com o emprego da hipérbole, a descrença do autor na humanização do homem moderno. O mesmo ocorre com "inabitável" e "mais habitado". Podemos perceber, portanto, que à medida que o homem se desenvolve tecnologicamente, a sociedade barbariza-se. Toda essa realidade exposta ao longo dos versos serviu de suporte para Drummond produzir o seu ato estético: "Desconfio que escrevi um poema.".